No meio de uma guerra, à noite, Ivan, um garoto de uns 10, 12 anos, sujo das trincheiras, chega numa casa-abrigo. O soldado que abre a porta desconfia daquele garoto no meio da guerra, não sabe quem ele é, interroga o garoto, que diz que trabalha para o comandante Fulano. O soldado não acredita, mas Ivan é irrascível, personalidade forte, se mantém firme insistindo até que o soldado liga para o tal comandante, que diz a ele que o garoto trabalha sim para o exército, e é muito importante que seja bem tratado e alimentado.
Quando desliga o telefone, o soldado pergunta a Ivan se está com fome. O garoto respira fundo e diz que come depois. Esse momento é incrível. Nessa respirada e curta resposta se somam, ao mesmo tempo: o cansaço profundo do corpo do menino; a maturidade precoce; a vontade de não perturbar, independência orgulhosa; a cabeça cheia de outras coisas que ele viu, provavelmente terríveis, na guerra. E para além disso, é a primeira vez em toda a sequência inicial em que ele relaxa da atitude alerta e combativa que tivera com o outro soldado, a quem teve de convencer. Relaxamento, finalmente, duplo: do combate da guerra e do combate travado agora nesta sala. Então você se dá conta da crueldade dessa pequena desconfiança do soldado. Obrigar o garoto a travar mais uma batalha, ainda que pequena, antes de poder finalmente descansar.
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